quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sobre o Tempo


Dentre todas as coisas do universo, uma que sempre me deixou intrigada foi  a nossa percepção de Tempo. O tempo, suas definições, usos e limitações. É comum associarmos tudo na vida a um determinado tempo: ”Tudo a seu tempo”, “Só o tempo cura”, “Tudo muda com o tempo”. Mas afinal, o que é o tempo? Pra que serve? O tempo é uma ilusão? As respostas para todos esses questionamentos não são óbvias – sendo assim, escrever sobre o tempo é muito mais curiosidade que conhecimento.
Não há uma definição única para o tempo, a ideia que temos acerca do tempo não pode ser vista como absoluta, já que varia de acordo com a abordagem e a percepção que lhe é dado. Diversos autores, filósofos e cientistas tem concepções diferentes em relação ao tempo, mas para a maioria deles tempo e espaço são construções da mente humana. Dentre eles Platão,  que afirma que o tempo nasceu quando um ser divino colocou ordem e estruturou o caos primitivo – tendo, dessa forma, uma origem cosmológica.

- Abordagem Física -

O tempo é uma grandeza fundamental da Física, assim como a massa e a distância. Sendo necessário quantificar o tempo para definir o que são processos e mudanças e para que relações de antes e depois possam ser estabelecidas. Aqui, podemos dizer que os  autores mais relevantes  nesse contexto são: Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einsten.
Galileu já tinha a ideia de que o tempo era uma grandeza que se podia medir com um relógio, tal como o espaço é uma grandeza que se pode medir com uma régua. Logo em seguida, Newton surge com suas leis, descrevendo os movimentos, com a ajuda da matemática, como alterações das posições de um corpo no espaço ao longo do tempo. E deixou claro que existia um tempo absoluto, igual para todos, que todos os relógios marcavam o tempo da mesma maneira, logo, não fazia distinção entre passado e futuro.
E na escala evolutiva do conhecimento aparece Einstein, que apresentou uma nova definição para os conceitos de tempo e espaço, mostrando que a maneira como a Mecânica de Newton abordava esses conceitos não era válida para algumas situações. Einstein estabeleceu uma nova mecânica, a mecânica relativista, que engloba a mecânica de Galileu e Newton, mostrando que a simultaneidade é algo relativo, diferente do tempo absoluto de Newton. Enfim, não vamos nos aprofundar muito na física, não, porque isso já está ficando complexo demais.

- Abordagem Histórico-Geográfica -

O tempo histórico é uma escala de tempo usada no estudo da história da humanidade, tendo como unidades o ano, décadas ou séculos. É aquele que diz respeito a todo processo que tem como agente transformador o ser humano, durante o seu fazer histórico. É a medida de compreensão dos eventos e das sociedades.
Tendo em mente que as rochas são registros de processos geológicos é possível determinar processos que ocorreram no passado através do estudo dessas rochas e entender como era o nosso planeta em tempos anteriores ao surgimento das formas de vida complexa. Para tanto, é necessário se estabelecer as relações temporais entre os registros geológicos, afim de entender a evolução da Terra e o significado de cada um dos processos geológicos.

- Abordagem humana -
“O tempo é uma ilusão produzida pelos nossos estados de consciência à medida em que caminhamos através de uma duração eterna.”
Assim Isaac Newton o definiu, nos dando a ideia de que o tempo é mera invenção. Para nós, o tempo foi inventado com o intuito de marcar o passado e o presente, já que é comum criarmos métodos e crenças para nos convencermos e entender o universo.
Já  quando nos referimos ao futuro, o tempo não pode ser de todo uma ilusão, pois nossa existência depende dele. É nele que nos baseamos para fazermos nossas escolhas, nossos projetos e programções de vida. Aí vem a genialidade do Pink Floyd e nos fala sobre o desperdício do tempo durante  a vida, nos alertando.

“Marcando os momentos que formam um dia monótono.
Você desperdiça e perde as horas de uma maneira descontrolada…
Você é jovem e a vida é longa e há tempo para matar hoje
E depois, um dia você descobrirá que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr, você perdeu o tiro de partida…
E você corre e corre para alcançar o sol mas ele está indo embora no horizonte
O sol é o mesmo, relativamente, o mesmo mas você está mais velho
Cada ano está ficando mais curto, você parece nunca ter tempo.
Planos que tampouco deram em nada ou em meia página de linhas rabiscadas
Com pouco fôlego e um dia mais próximo da morte (…)”


É comum lembrar que na infância tínhamos a nítida impressão de que o tempo passava mais devagar. Nossa, pra chegarem as férias escolares era uma eternidade. Hoje, enquanto adultos, a história se inverte, temos a impresão de que o tempo acelerou, mera ilusão, os mesmos minutos daquela aula chata e interminável continuam sendo os mesmos minutos, o que mudou foi o acúmulo de responsabilidade – há tanta coisa na cabeça que, quando começamos a prestar atenção na aula, o professor já deu tchau. Daí nos resta o sentimento de desperdício de tempo, a sensação de não termos tempo para mais nada, a vida está curta demais, corremos desesperadamente em busca de tempo pra realizarmos todos os projetos e objetivos traçados…

Aí chega Carlos Drummond de Andrade para tentar nos acalmar:

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”

Verdade ou não? A ideia que temos de tempo, o jeito como nos organizamos em relação a ele, é realmente fantástica. Desesperamo-nos ou não de acordo com o tempo que achamos que temos, com o prazo de responsabilidade que é nos dado.
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PS:Texto originalmente postado no blog ReEvolução.net

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