"Procrastinação" foi a última palavra que me lembro ter aprendido. Sempre me faltou uma palavra que descrevesse esta coisa, essa coisa de evitar o inevitável, só por evitar e parecer evitável.
Aprender esta palavra e seu significado, foi como descobrir uma cor nova, um signo novo, uma nova nota musical. E sempre soou como uma cor cinzenta mas não cinza nem matizada, um signo perdido entre o solstício e as revoluções.
"Procrastinar" soa bem, apesar dos pesares.
Se diz que procrastinar, é como masturbação : a sensação é boa, mas você só está fodendo consigo mesmo.
Procrastinar, é escrever num blog. Procurar inspiração. Fazer algo inútil para que consiga começar algo útil. É tomar o caminho mais longo e estático, porque o caminho mais curto é muito enérgico.
É o deixar para depois, e depois deixar um pouco mais. Inflar a realidade com gas hélio, engraçado, vazio e volátil. Observar as coisas em câmera lenta, de trás-para-frente, e observar de novo, não prestar atenção, e ver pela terceira vez. Tamborilar no braço do sofá, tomar um café. É o botão "soneca" do celular. Mais cinco minutos. Mais vinte minutos. Mais uns dias.
Procrastinar é pegar a existência uma vez sólida e compacta, e esticá-la num fio finíssimo e longo. É viver numa bola de chiclete, enorme e cheia de ar por dentro até estourar. E daí fazer outra bola.
Procrastinação é homeopatia, fazer tudo em pequenas doses, um pouco por vez, e um pouco de tudo. Procrastinação é procurar sinônimos e adjetivos, palavras e coisas para continuar escrevendo antes de chegar a uma conclusão final.
Procrastinar é evitar a conclusão final no fim depois que acaba.
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